sexta-feira, 16 de março de 2012

Como vai, como vai, como vai?

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Durante os quatro dias de Carnaval, muitos dos participantes recebiam doações dos espectadores, dos patrocinadores e até dos apresentadores. Choravam, agradeciam, dançavam. Enfim, era um show. Que dava resultados para quase todos. Como os reality-shows de hoje.

(Há um livro norte-americano, They shoot horses, don’t they?, do final dos anos 1960, depois transformado em filme, que descreve exatamente isso: maratonas de dança, de pura miséria humana, comuns durante a Grande Depressão norte-americana de fins dos anos 1920, início dos anos 1930.)

Vocês, claro, já perceberam que esses shows são a re-edição do circo romano, da arena criada para se trucidar pessoas do povo, onde outras pessoas do povo vão para deliciar-se com o ‘mundo cão’ dessse tipo de espetáculo. (Mundo cão também era uma expressão bastante usada nos anos 1960 e agora bem pouco usada.)

Mas o que não posso deixar de registrar aqui, até porque foi o mote para dar título a essa estória, é o programa semanal de humor Circo do Arrelia, da antiga TV Record, Canal 7. 

Não há muitos anos, vi o palhaço Arrelia, já passado de seus 90 anos, e bem perto do fim de sua vida, sendo entrevistado por um repórter de TV, explicando de onde veio o bordão Como vai, como vai, como vai? Muito bem, muito bem, bem, bem!, que ele usava deliciosamente no programa.

Ele foi à cidade de Araraquara, no estado de SP, com seu circo, já famoso, onde foi abordado e cumprimentado por um político local, que lhe perguntou: “Como vai, como vai, como vai?”, assim, exatas três vezes. Então ele, Arrelia, imediatamente emendou “Muito bem, muito bem, bem, bem!”, exatamente assim, copiando a entonação de seu recém-conhecido, com dois ‘muitos bens’ e dois ‘bem-bens’.

A pergunta e a resposta também eram acompanhadas de movimentos circulares verticais – como os que imitam as rodas de um trem em funcionamento - feitos pelas mãos unidas dos dois envolvidos no cumprimento. E esses movimentos eram induzidos ao Arrelia pelo político, já acostumado com esse ritual...

Ele usou, a partir daí, esse bordão, junto com seu partner de muitos anos, o palhaço Pimentinha, toda vez que ambos entravam em cena, no momento em que conseguiam se cuprimentar, daquele modo – que se tornou característico a partir daí - em que um palhaço se dirige ao outro, ambos de mãos direitas estendidas, caminhando, mas em que um “erra” a mão do outro.

E passa pelo outro, 'sem vê-lo'... até se aperceberem que seu partner 'sumiu'.

(Não é fácil descrever. Muito mais fácil é mostrar como se faz. Sugestão: reproduzam a cena, com seu filho, filha, esposa, enfim, com seu partner. E estudem o caso...)

Depois voltamos a conversar...

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