quarta-feira, 4 de abril de 2012

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O livro está publicado!

Meus caros,

Está publicado o livro!
Clique no link/imagem abaixo para saber mais sobre a publicação e sobre como adquiri-lo.

É uma nova modalidade de publicação, sob demanda:  o livro não vai para as livrarias; é enviado diretamente para o interessado e apenas são impressos os exemplares solicitados. Isso poupa papel e a Natureza!
O livro é bem acabado (tenho um exemplar impresso) e seu preço indicado no site já inclui as despesas com correio.
Dentro de algumas semanas faremos um encontro com o livro em mãos...

Espero que gostem e obrigado pelo apoio de todos!

Abraços,

RM

http://www.clubedeautores.com.br/book/126393--A_AVENTURA_DE_SER_AMAR_E_PENSAR

quinta-feira, 29 de março de 2012

Bourdieu

[...]
O sociólogo Pierre Bourdieu (França,1928-2002) foi um pensador com grandes contribuições para melhorar as vidas de todos nós, de qualquer país, ocupação, gênero e idade.

Segundo ele, uma pessoa dispõe de vários tipos de capitais (além de seu capital econômico, que são suas posses materiais), destacando-se, entre eles, o capital social, o cultural e o simbólico.

Ele define capital social como o conjunto de recursos atuais ou potenciais que a pessoa possui decorrente de seu pertencimento a um tecido de relações sociais, do qual ela se beneficia de diversos modos.

O capital social não é dinheiro vivo, mas é um bem precioso da pessoa, e tem o potencial de transformar-se nele facilmente.

E é assim porque a existência das relações sociais que definem esse tipo de capital, sejam elas de parentesco ou mesmo de circunstâncias sociais menos duradouras, colabora de modo forte para a pessoa construir uma trajetória privilegiada, acarretando-lhe benefícios e lucros.

Tais como: participar de negócios e sociedades comerciais, ter empregos bem remunerados, integrar instituições muito seletivas, residir em condomínios e bairros elitizados, estudar em escolas de elite, até mesmo casar-se com membros de famílias abastadas, entre outros.

Já o capital cultural de cada pessoa assume diversas faces:

a) é o acervo (e a postura) cultural herdada no âmbito de sua família (pais, irmãos, tios, avós);

b) é a hierarquia com que a pessoa é tratada por todos, em função do patrimônio cultural de seu núcleo social;

c) é resultado do melhor domínio que a pessoa tem de seu idioma e dos conceitos sócio-econômico-culturais que afetam sua vida; o que lhe confere certa ascendência no trato com pessoas que não possuem esses recursos, e que são a grande maioria da população.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Como vai, como vai, como vai?

[...]
Durante os quatro dias de Carnaval, muitos dos participantes recebiam doações dos espectadores, dos patrocinadores e até dos apresentadores. Choravam, agradeciam, dançavam. Enfim, era um show. Que dava resultados para quase todos. Como os reality-shows de hoje.

(Há um livro norte-americano, They shoot horses, don’t they?, do final dos anos 1960, depois transformado em filme, que descreve exatamente isso: maratonas de dança, de pura miséria humana, comuns durante a Grande Depressão norte-americana de fins dos anos 1920, início dos anos 1930.)

Vocês, claro, já perceberam que esses shows são a re-edição do circo romano, da arena criada para se trucidar pessoas do povo, onde outras pessoas do povo vão para deliciar-se com o ‘mundo cão’ dessse tipo de espetáculo. (Mundo cão também era uma expressão bastante usada nos anos 1960 e agora bem pouco usada.)

Mas o que não posso deixar de registrar aqui, até porque foi o mote para dar título a essa estória, é o programa semanal de humor Circo do Arrelia, da antiga TV Record, Canal 7. 

Não há muitos anos, vi o palhaço Arrelia, já passado de seus 90 anos, e bem perto do fim de sua vida, sendo entrevistado por um repórter de TV, explicando de onde veio o bordão Como vai, como vai, como vai? Muito bem, muito bem, bem, bem!, que ele usava deliciosamente no programa.

Ele foi à cidade de Araraquara, no estado de SP, com seu circo, já famoso, onde foi abordado e cumprimentado por um político local, que lhe perguntou: “Como vai, como vai, como vai?”, assim, exatas três vezes. Então ele, Arrelia, imediatamente emendou “Muito bem, muito bem, bem, bem!”, exatamente assim, copiando a entonação de seu recém-conhecido, com dois ‘muitos bens’ e dois ‘bem-bens’.

A pergunta e a resposta também eram acompanhadas de movimentos circulares verticais – como os que imitam as rodas de um trem em funcionamento - feitos pelas mãos unidas dos dois envolvidos no cumprimento. E esses movimentos eram induzidos ao Arrelia pelo político, já acostumado com esse ritual...

Ele usou, a partir daí, esse bordão, junto com seu partner de muitos anos, o palhaço Pimentinha, toda vez que ambos entravam em cena, no momento em que conseguiam se cuprimentar, daquele modo – que se tornou característico a partir daí - em que um palhaço se dirige ao outro, ambos de mãos direitas estendidas, caminhando, mas em que um “erra” a mão do outro.

E passa pelo outro, 'sem vê-lo'... até se aperceberem que seu partner 'sumiu'.

(Não é fácil descrever. Muito mais fácil é mostrar como se faz. Sugestão: reproduzam a cena, com seu filho, filha, esposa, enfim, com seu partner. E estudem o caso...)

Depois voltamos a conversar...

sexta-feira, 9 de março de 2012

Italo

[...]
Por alguma razão que não entendi ainda, e não sei se algum dia entenderei, não me lembro do fim de Ítalo. Minha lembrança não registrou seus últimos tempos. Parece-me que ele foi retirado de sua casa por iniciativa dos vizinhos, que chamaram o serviço público social da época, ou pela ação 'benfeitora' de algum de seus parentes ou algo assim.

Porque Ítalo, sozinho, certamente há muito tempo não tinha mais forças nem a clareza mínima para cuidar de si mesmo. Nem para comer, nem para tomar banho, nem fazer sua própria higiene. (Como pode ser, tantas vezes, cruel e patética a condição humana?...)

Como a lembrança não preenche esses fatos, deixo a imaginação preenchê-los assim: Ítalo foi recolhido a um asilo público, viveu lá pouquíssimos meses, até morrer de cirrose combinada com um ataque cardíaco.

Não levou pra lá nem seus discos nem suas garrafas de whisky de terceira categoria, nem a incompreensão e a ingratidão dos homens. Só levou para seu fim de vida as lembranças das nossas visitas, de meninos e adolescentes, e as irrelevâncias que nós dissemos e fizemos quando de nossas visitas a ele.

O final de Ítalo, embora hipotético, lembra-me o final de um filme de Lina Wertmuller (Itália,1926), em que o personagem de Giancarlo Giannini (Itália,1942) tenta continuar vivendo, tropegamente e bêbado – como Italo, após inúmeras desventuras, tentando ganhar a vida como um indesejado carregador de malas em um porto decadente de uma cidade obscura.

A última cena do filme termina focalizando Giannini e a imagem vai se afastando, com a câmera subindo, subindo, de modo que o vemos cada vez mais distante e lá embaixo, lá embaixo, tropeçando nas malas e com trejeitos exagerados de serviçal, até que não o vemos mais.

Ele desaparece assim. Com sua imagem apenas desaparecendo. Como se nunca tivesse existido. Como se se tratasse da vida de alguém ao contrário: vista desde a velhice até a infância. Uma trajetória ao contrário: da velhice ao útero, da presença até a ausência definitiva.

Enquanto isso a música cresce. (O cinema sabe revolver nossas emoções! Cenas como essa – e intensificadas com música de fundo – se entranham em nós, para nunca mais as esquecermos!)

No caso de Ítalo, haveria de ser uma música qualquer executada pela Orquestra de Mantovani, que poderia ser acompanhada por um côro de bêbados, soluçantes, fedidos e maltrapilhos, como Ítalo ficou em seus últimos anos, como ele, igualzinho como ele ao fechar os olhos para esse mundo.

sábado, 3 de março de 2012

Aquela foto

[...]
Um detalhe: sempre ouvi de minha mãe que eu não queria tirar aquela foto. Ironia das ironias, porque hoje essa foto é uma relíquia para mim, maior do que qualquer outro objeto. Mas o mundo é assim: parece que as coisas que se tornam mais valiosas no decorrer do tempo são aquelas pelas quais se dava menos valor no início.

Parece que os maiores amores registrados são aqueles que, ao começarem, não prometiam passar de um flerte. Que as grandes idéias e invenções não eram, no início, quase nada mais do que uma maçã caindo, do que um balão flutuando, que alguns tubos de ensaio num laboratório remoto e precário.

E ela contava que, como eu estivesse resoluto em minha decisão de impedir aquele momento sublime, o fotógrafo teria me mostrado um boneco, para me distrair, e só então conseguiu realizar a foto!

(Não!... não!... é importante aqui escrever a verdade. Estou tentando dissimular aqui um fato “vexatório” para minha reputação de menino de dois anos, e ainda mais constrangedor para minha reputação de homem maduro: na verdade, na verdade, o fotógrafo mostrou uma boneca. Isso mesmo: uma boneca! Mas não importa: a foto foi feita! Será esse mais um exemplo de que os fins justificam os meios?)

Naquele ano, o presidente da república era o Marechal EGD, hoje mais conhecido por ter emprestado seu nome a uma rodovia, o país tinha menos de quarenta milhões de habitantes, poucas pessoas tinham carros, poucas casas tinham telefone e televisão, como volto a lembrar. O mundo era, ao menos por fora, ao menos materialmente, bem diferente do que é hoje.

Por dentro, no entanto, o mundo era igual. O mesmíssimo de hoje. Porque o que o mundo tem 'por dentro' são as pessoas... e o que as pessoas tem 'por dentro' são suas fotos, em poses sérias, quando crianças, ao lado de suas famílias, especialmente ao lado de suas mães.

Mães esplendorosas! Belas. Dotadas de uma beleza incontível. Difícil de narrar mas que, ao mesmo tempo, fica pedindo reiteradamente, uma narrativa. Uma beleza que se derrama em nossa memória, sai pelos olhos, pela boca, pelos ouvidos. Como flores que escorrem na água da chuva, frágeis, orgulhosas de sua beleza e de seu destino. E desaparecem dos nossos olhos, pelas calçadas de nossas lembranças, esvaindo-se no fluir dos dias...

Tinha razão Fernando Pessoa (Portugal,1888-1935): nada retorna, nada se repete, porque tudo é real.